Confesso que perdi
Confesso que perdi: Juka Kfouri é daqueles profissionais que viveria bem se praticasse um jornalismo esportivo superficial e bem-humorado.
Ele tem um atributo fundamental a veículos como rádio e tevê: é um bom comunicador, característica que não se encontra facilmente por aí.
Confesso que perdi, de Juca Kfouri
Kfouri, portanto, daria conta do recado se falasse de táticas de futebol ou festejasse o oba-oba do universo dos jogadores dos times grandes, pratica ilusória e recorrente em reportagens sobre o esporte bretão. Em seu livro de memórias “Confesso que perdi” (Companhia das Letras), entende-se por que o autor não está para brincadeiras.
Juka Kfouri é da linhagem de João Saldanha, que deixou como herança livros fantásticos como “Os subterrâneos do futebol” e um sem-número de colunas brilhantes no Jornal do Brasil.
À semelhança do “João sem medo”, Kfouri não faz média com a cartolagem nem com jogadores. Seu único amigo entre os jogadores foi um gigante: Sócrates, um dos idealizadores da Democracia Corinthiana e morto precocemente em 2011. Ao craque, o escritor lhe dá um capítulo exclusivo denominado “Um capítulo à parte”.
Juca Kfour
Aos 67 anos, o jornalista, sem ser professoral, dá uma aula sobre seu ofício ao descortinar como equilibra espírito crítico e uma intensa paixão pelo futebol.
De certa forma, ele é libertário ao deixar claro que tais coisas são compatíveis. Mostra ainda que a fama de inculto de jornalista esportivo é uma opção estúpida para o repórter que confortavelmente nela se encaixa.
Formado em Ciências Socais pela USP, fã do pensador marxista italiano Antonio Gramsci, o ateu Juca Kfouri dribla clichês como futebol e política não se misturam.
Em suas memórias, diz que um dos seus sonhos, ao ingressar na USP, era escrever uma tese de doutorado para mostrar que o futebol é mobilizante e não alienante. Sua trajetória, agora esmiuçada em livro, é uma prova eloquente dessa ideia.