A mente imprudente

A mente imprudente mostra como intelectuais do século XX apoiaram princípios tiranos e regimes totalitários.

De Heidegger a Foucault, historiador da Universidade de Columbia analisa como pensadores foram influenciados por ideologias e paixões de suas épocas

A mente imprudente

A mente imprudente

capa de A mente imprudente

Ao longo da história, certos intelectuais receberam de braços abertos regimes totalitários fascistas e comunistas. Esta é a premissa do historiador americano Mark Lilla no livro “A mente imprudente”, lançamento da Editora Record.

Em forma de ensaios, Lilla traça o perfil filosófico-político de seis pensadores do século XX, que, na visão do autor, se deixaram levar por ideologias e fecharam os olhos ao autoritarismo, à brutalidade e ao terrorismo de Estado.

O historiador conta a trajetória do filósofo alemão Martin Heidegger e sua entrada no partido nazista em maio de 1933, ainda que hoje já se saiba que pelo menos dois anos antes ele já tinha manifestado apoio a Hitler.

A decisão de seguir o nazismo complicou a vida de seu amigo  Karl Jaspers e de Hannah Arendt, com quem Heidegger viveu um romance.

A mente imprudente – The reckless mind: intellectuals in politics

“Jaspers era um amigo, Arendt fora sua amante, e ambos admiravam Heidegger como um pensador que, segundo acreditavam, tinha revivido sozinho o autêntico ato de filosofar. Agora eles tinham de se perguntar se sua decisão política refletia apenas uma fraqueza de caráter ou se havia sido preparada pelo que Arendt chamaria mais tarde de seu “pensamento apaixonado”.

Neste último caso, significaria que seu próprio apego intelectual/erótico a ele como pensador estava comprometido? Acaso haviam se equivocado apenas a respeito de Heidegger ou também sobre a filosofia e sua relação com a realidade política?”, indaga o autor.

A Mente Imprudente - Mark Lilla

A Mente Imprudente – Mark Lilla

Assim como Heidegger, o filósofo alemão Carlos Schmitt apoiou publicamente os nazistas nos primeiros dias do Terceiro Reich.

 Lilla analisa também como Walter Benjamin, considerado um dos intelectuais mais importantes do século XX, expressa em suas cartas que era um pensador teologicamente inspirado e politicamente instável.

“Processos exemplares”

Ele conta que nos anos 30, Benjamin se mantivera calado sobre “processos exemplares” em Moscou e ao longo da década não foi capaz de criticar Stalin publicamente, nem quando a militante e diretora teatral Asja Lacis, com quem se envolveu amorosamente, foi levada a um gulag, campo de trabalho forçado para onde iam “inimigos” do Estado.

O historiador relata ainda aspectos controversos na trajetória do filósofo russo Alexandre Kojève, do franco-argelino Jacques Derrida e de Michel Foucalt,  que se declarava discípulo do Marquês de Sade e se divertia com as gravuras de Goya retratando a carnificina da guerra:

“Assistimos ao processo mediante o qual uma obsessão intelectual com a transgressão culminou numa perigosa dança com a morte”, afirma.

A MENTE IMPRUDENTE: (The reckless mind: intellectuals in politics) – Mark Lilla

196 páginas. R$39,90. Editora Record. (Grupo Editorial Record)

Mark Lilla nasceu em Detroit, EUA, em 1956. É professor na Universidade de Columbia e escreve regularmente para a revista New York Review of Books e outras publicações ao redor do mundo. 

É autor, entre outros, dos livros The Stillborn God: Religion, Politics and the Modern West e G.B Vico: Tha Making of na Anti-Modern, além de The Legacy of Isaiah Berlin, com Ronald Dworkin e Robert B. Silvers. Em 2015, venceu o prêmio de Melhor Comentarista de Notícias Internacionais concedido pelo Overseas Press Club of America, pela Coluna “On France”, da New York Review of Books.

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